O muay thai é sua paixão. Esporte que ela conheceu aos 13 anos na equipe Thai Center da cidade de Santos. Onde aprendeu, cresceu e se tornou uma das melhores lutadoras do país.
Com 13 vitórias (e dois No Contest), permanece invicta na carreira que já atravessou fronteiras e conquistou peruanos, chilenos e tailandeses.
O Round Extra conversou com a bela (e fera) Tainara Barati de Almeida Lisboa. A menina-mulher de rostinho angelical, mas capaz de botar muito marmanjo pra correr.
RE - De onde surgiu o interesse e como foi o ingresso no mundo das lutas?
TL - Através do meu pai que sempre foi atleta e me incentivava a praticar esporte, e como sempre gostei de lutas, saímos à procura de uma academia de artes marciais, onde encontrei o Muay Thai na Thai Center. Fui me encantando com a arte e passei a observar a rotina dos competidores de perto e aos 16 anos surgiu a primeira oportunidade de lutar.
RE - Qual foi a reação de sua família quando você resolveu que queria ser lutadora?
TL - Deu total apoio, pois gostam de esporte e viram que eu estava em uma academia séria e que estaria em boas mãos.
RE - Você tem 19 anos e já luta profissionalmente. Como faz para conciliar estudo, família, diversão e treinos?
TL - Hoje dedico quase todo meu tempo ao Muay Thai, onde procuro uma carreira sólida. Mas não sofro por isso, pois o Muay Thai no momento é minha prioridade. Nos momentos de descanso estou sempre junto da família.
RE - Conte-nos um pouco da sua rotina diária.
TL - É a rotina de todo atleta que deseja alcançar seus objetivos. Começo meu dia às 7, com meu primeiro treino que em média dura 2hrs, depois vou pra casa, ajudo meu pais, descanso e volto a treinar às 15h com duração de 3 a 4 hrs de treino, e aproveito pra descansar e dormir pra começar tudo no de novo no outro dia.
RE - Infelizmente nem todos vêem as artes marciais como esportes de disciplina, o que gera certo preconceito com os atletas. Você já sofreu algum tipo de discriminação ou critica por ser lutadora?
TL - Às vezes as pessoas acham que esporte de luta é brincadeira e não a levam como profissão. Mas quando escuto um comentário deste tipo procuro mostrar o lado profissional do esporte.
RE - A pouco menos de um ano você viajou para Tailândia, onde residiu por três meses, certo? Como foi esta experiência e qual foi sua maior dificuldade de adaptação?
TL - Foi maravilhosa em todos os aspectos, a maior dificuldade foi o clima que é muito forte. O calor e o ar muito seco.
RE - Alguma situação engraçada ou inusitada que tenha vivido ou presenciado?
TL - Muitas. Mas as mais engraçadas foram:
A descarga que em muitos lugares é um balde com água que temos que jogar no vaso e outra além de muitas, é que várias pessoas ficam escondidas enquanto uma para o táxi, depois todos querem entrar junto, coisa de 6 ou 7 pessoas no mesmo táxi... no centro os cachorros de estimação ficam em gaiolas e por ai vai. Realmente a cultura é muito diferente e interessante, mas as pessoas são boas e sem maldade.
RE - Quais as principais diferenças entre Brasil e Tailândia?
TL - Cultura muito diferente, valores, os treinadores são mais respeitados que os próprios pais. Há respeito com as pessoas, lá existe uma hierarquia
Os mais velhos são respeitados pelos mais novos. O pai é muito machista, as mulheres são muito submissas.
Em relação aos treinos estava bem a vontade, não senti muita diferença, estava preparada para o ritmo deles que é bem forte.
O fato de nosso treinador já ter viajado várias vezes para Tailândia facilitou muito em todos os sentidos.
RE - Na Tailândia fez três lutas, porém nenhuma contra uma “nativa”. Ficou um sentimento de “faltou alguma coisa”? Gostaria de ter enfrentado uma tailandesa ou não vê diferença?
TL - Não. Lutei e venci no berço do Muay Thai, treinei com a número 1 da Tailândia e Campeã Mundial da WMC, Danapan (Kietkensak), que em sua última luta venceu Sindi Huyer e treinei de igual para igual com ela. Com certeza a única coisa que ficou, é a vontade de voltar!
RE - A falta de apoio e investimentos no Brasil, faz com que seja quase impossível um atleta sobreviver só de lutas. A situação piora em artes isoladas como o muay thai, e é ainda pior para as mulheres que se aventuram neste esporte. Qual sua análise sobre esta situação e como você se vê em um futuro a médio prazo?
TL - Infelizmente isso é uma realidade. A falta de patrocínio torna muito mais difícil nossos objetivos. Minha maior meta é conquistar o mundo das lutas fora do Brasil e claro que se tiver um apoio financeiro tudo fica mais fácil, mas enquanto não tenho vamos batalhando e aos poucos estamos crescendo mundialmente. E sei que além das lutas estou aprendendo uma profissão que mesmo quando não puder mais lutar pela idade, ou coisa assim, ainda continuarei nesse mundo que me fascina como professora, passando o que aprendi para quem estiver começando.
RE - Treina ou já treinou outra modalidade? Existe a pretensão de migrar para outra arte no futuro? Como para o MMA, por exemplo.
TL - Nunca treinei outra modalidade, por enquanto meu foco é somente o Muay Thai.
RE - A beleza de Tainara Lisboa também sempre foi destaque nos ringues. Existe uma “cobrança pessoal” em relação a isso? Uma espécie de responsabilidade em provar que é possível ser uma lutadora eficiente sem perder a feminilidade?
TL - Na verdade não, a minha pretensão sempre foi ser uma grande lutadora, a feminilidade não é afetada pelo esporte isso esta dentro de cada um de nós e acho muito legal poder fazer parte das meninas que mostram isso.
E para finalizarmos... uma rapidinha com Tainara Lisboa:
Ídolo(s) - Meus pais
Muay thai - Paixão
Tailândia - Um sonho realizado, mas com muito coisa ainda a desvendar
Brasil - Lugar onde nascer
Família - Meu suporte, meu tudo
Sandro de Castro - A pessoa que me ajuda a caminhar todos os dias
Fama - Algo que ainda pretendo conhecer como recompensa do meu trabalho
Se não fosse lutadora seria... Boa pergunta! Estaria me descobrindo porque não vejo outro caminho.
Verbo ou lema de vida: Persistir sempre, jamais baixar a cabeça e continuar lutando.
O Round Extra agradece a entrevista, deseja sorte e sucesso em sua carreira e deixa aberto o espaço para outros comentários ou agradecimentos que desejar.
Gostaria de falar aos atletas que a fidelidade a sua equipe e ao seu treinador é muito importante para que possamos crescer, pois ninguém nos conhece e nos respeita mais que nosso treinador. Uma equipe sólida e profissional faz lutadores fortes e conscientes de seu valor, com isso todos nós atletas e o próprio esporte só tende a crescer.
Agradeço ao Round Extra pela oportunidade, a minha equipe Thai Center e a todos que apoiam o Esporte.
Obrigada!!!
Entrevista concedida em 07/09/10