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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

» Entrevista: Amilcar Alves

Carioca, 30 anos, atleta da Equipe Nova União.
No muay thai são doze lutas e apenas uma derrota. Cartel este que se repete também no MMA: 11-1-0
 
A três dias de estrear no maior evento de MMA do mundo, o Blog Round Extra bateu um papo com Amilcar Alves Bandeira dos Santos, o mais novo contratado de Dana White.
Que nos contou sobre seu inicio de carreira e suas expectativas em lutar no UFC.


RE - Treina a quanto tempo?
AA - Treino judô desde 1985, muay thai desde 2000 e jiu jitsu desde 2005.

RE - E de qual modalidade mais gosta?
AA - Difícil. Acho o muay thai excepcional, mas infelizmente não tenho condições de sustentar minha família com ele. Então juntei o útil ao agradável, entrando para o MMA. Mas até hoje, judô é pra mim a ciência mais interessante.

RE - Como ingressou no mundo das lutas? Algo que trás nas raízes?
AA - Eu comecei no Judô por ser uma arte que traz a educação como prioridade. Fui incentivado pelos meus pais. Na verdade meu pai treinava boxe no Santa Rosa e parou quando eu nasci para que não o visse treinando e não quisesse seguir no mundo das lutas.

RE - Como ele reagiu quando você resolveu se profissionalizar?
AA - Olha, acho que como todo pai ele queria um filho que estudasse e tivesse um emprego que pudesse trazer sustento. Quando fiz minha primeira luta e cheguei em casa mancando recebi um olhar muito repreendedor, mas ao mesmo tempo  com uma pergunta que eu mesmo não tinha me feito antes. “É isso mesmo que eu quero?”
E foi a partir dali que eu nunca mais parei.
Tenho todo o apoio da minha família, nunca consegui levar meu pai para assistir às minhas lutas. Sempre quando chega a hora ele desiste. Eu não entendia o por quê . Só percebi o que realmente acontecia quando levei uma luta minha para meus pais assistirem  e, quando começou a rodar minha mãe foi para a cozinha e meu pai começou a suar de nervoso. Ali eu entendi o que passava na cabeça deles. Não queriam ver seu filho sendo "agredido" ou "agredindo" alguém. Mesmo assim sempre me deram força suficiente para que eu continuasse meu sonho!

RE - Sabemos o quanto é importante para um lutador o apoio e a presença da torcida, isso passa a ter mais valia quando se tratam de amigos, namorada e pais. O fato dos seus nunca estarem presentes nunca lhe incomodou? Ou prefere desta forma a vê-los "sofrer" por estar sendo “agredido” na visão deles.
AA - No caso dos meus pais, prefiro deixá-los em casa. Agora minha esposa às vezes aparece de surpresa com meu filho. Fico muito feliz, quando olho pra cima e o vejo lá na arquibancada. Dá-me uma força tremenda. Saber que as pessoas que você ama estão presentes nas horas difíceis. Meus pais já entenderam minha profissão. Então fico tranquilo, pois sei que mesmo longe a torcida deles é enorme.

RE - Quem foram ou são suas grandes inspirações?
AA - Eu sempre tive o meu primeiro professor (Aloísio Dado) como inspiração. Ele sempre treinou forte sempre se dedicou muito. Infelizmente hoje em dia não estamos mais treinando juntos, mas eu tenho que agradecer muito a ele por ter acreditado em mim. Toda vitória eu dedico a ele .
Hoje em dia eu digo que Marlon Sandro, Leonardo Santos e José Aldo são as melhores inspirações que um atleta de MMA  pode ter. Eu tenho o Marlon como um pai. Ele está sempre no meu pé, se preocupa realmente comigo assim como com todos os outros amigos e atletas da NOVA UNIÃO.
Acho Leonardo Santos o melhor. O número um dos leves no jiu jitsu até hoje. Eu o chamo de estraga treino porque não se consegue fazer nada com ele (risos). O José Aldo é indiscutivelmente um dos melhores, senão o melhor peso por peso do mundo.  Ele passa uma tranquilidade para quem está assistindo que parece que ele está ali jogando boliche. Tem um poder de absorção incrível.
Quando se fala em relação a treinos, sou muito fã desses três.  Treinar com eles é muito bom, somos realmente uma família.

RE - No MMA sua única derrota foi para o Fernando Paulon, com quem fez sua última luta e desta vez conseguiu vencer por KO ainda no 1º round. Você diria que esta foi sua melhor luta por se tratar de uma revanche? Foi vitória com gostinho especial?
AA - Na verdade eu vejo cada luta diferente. Não vi como revanche. Pra mim isso não existe. Até porque os dois com certeza melhoraram muito .Então eu vi simplesmente como mais uma luta na minha carreira.

RE - E entre todas lutas já feitas (MT ou MMA), qual considera ter sido a melhor?
AA - Foi contra meu ex- companheiro de equipe, Diego Braga. Como eu disse o Dado sempre confiou em mim. Mas acho que ele era um dos poucos, assim como seu irmão Alexandre Baixinho. Meus treinos nunca forma de encher os olhos. Na verdade a única coisa que acontecia quando alguém me via treinando era surgir na cabeça uma pergunta: “Esse cara acha mesmo que pode ser lutador de MMA?” (risos)
Eu nunca consegui render nos meus treinos. Acho que devido a isso as pessoas achavam que eu seria morto pelo Diego na luta. Mas uma coisa que me deixou surpreso foi quando eu olhei para onde estavam meus amigos e vi o Dado sentado junto a eles. Eu jamais imaginei que ele escolheria alguém para torcer porque o Diego sempre foi amigo dele antes de me conhecer. No final ,quando eu perguntei o porquê dele ter ficado com meus amigos , ele me deu uma reposta que me deixou mais feliz que minha vitória. Ele disse: “Eu confio no meu aluno e sei do que ele é capaz”

RE - Vocês não têm mais contato, certo? O que houve?
AA - Eu treinava com ele na Gracie Barra. Só que por ficar muito longe e eu ter passado por momentos difíceis na minha vida profissional, acabei ficando apenas dando aula com ele. Ainda queria continuar minha carreira, mas não tinha muita gente interessada em me contratar para os eventos. Acabei indo para a Nova União, de onde planejo nunca mais sair.  
Infelizmente hoje em dia estamos afastados, mas ainda vamos nos encontrar e tirar todas nossas divergências. Até porque eu não tenho nada contra ele. Mas é difícil. As pessoas fazem de tudo para afastar as coisas boas de nós. Continuo meu caminho mas sem esquecer da pessoa que sempre me ajudou.

RE - UFC - Como surgiu o convite para treinar no maior evento de MMA do mundo?
AA - Eu tinha um contrato com o Shine. Mas o evento não vingou. Doug Wilson, que é meu empresário junto ao André Pederneiras, já tinha entrado em contato com o UFC. No segundo contato conseguiram me por lá. E hoje eu sou muito grato por todo o esforço que eles fizeram.

RE - Como estão os preparativos? O que o público pode esperar de Amilcar Alves no próximo sábado contra Mike Pierce?
AA - Bom, o que se pode esperar de mim é o que tento fazer sempre: lutar bem para mim, para minha equipe e principalmente para o público.  
Eu tento ser sempre mais agradável possível lutando. Lógico que às vezes não dá para dar show e a vitória é a mais importante, mas eu estou sempre focado e acredito que isso faz com que minhas lutas sejam agradáveis.

RE - Podemos concluir que o Mike Pierce terá um grande desafio pela frente?
AA - Acho que podemos concluir que o UFC terá um atleta que vai sempre se dedicar ao máximo em suas lutas.

RE - Lutar no Ultimate é uma grande responsabilidade. Qual sua expectativa?  O que acha que mudará em sua vida/carreira após esta luta?
AA - Eu tenho certeza que a única mudança que realmente acontecerá será em relação à grande quantidade de fãs que o atleta ganha. Mas eu acho que apenas lá fora. Aqui as pessoas ás vezes parecem ter medo de se aproximarem de alguém que já viu na televisão ou coisa parecida.  Nos EUA é bem diferente. Os fãs te perseguem e isso é muito legal. Te olham várias vezes para ter certeza que você é o alvo deles (risos). Falando sério,  acho que eu sempre fui focado , não interessa aonde eu vá lutar. Claro, é o UFC. Então meu foco tem que ser muito maior pra não dar “brecha”, para ser mandado embora.

RE - Acha que Brasil não valoriza seus atletas? Faltam eventos de nível? A que atribui esta “deficiência”?
AA - Acho, e fico muito triste com isso. O problema é o seguinte: Temos vários eventos nos quais realmente seus organizadores não têm condições de pagar bolsas melhores por não terem alguém que injete dinheiro. Mas mesmo assim conseguem sempre fazer um evento excelente. Eu dou como exemplo o André Pederneiras que sempre tem uma forma de valorizar quem luta seu evento. Com certeza um lutador tem maior visibilidade quando tem em suas mãos um cinturão. Isso valoriza o "produto" no exterior, facilitando a exportação de atletas. Assim como o SHOOTO existem outros eventos que, de uma forma ou de outra dão ao atleta seu merecido valor. Mas existem também aqueles que têm condições financeiras de pagar uma boa bolsa, mas sabem que, por exemplo, se fulano não aceitar lutar por 300 reais , ciclano vai aceitar, então ficam à vontade para fazer seu evento e por seu dinheiro no bolso.   

RE - Dana White planeja fazer uma edição do UFC no Brasil em 2011.  Acha que esta é a chance do Brasil ter um evento realmente de grande porte e consequentemente valorizar mais seus atletas em casa?
AA - Acho não, tenho certeza! Se realmente o UFC acontecer no Brasil, meu patrão vai ficar louco com a quantidade de atletas que existem aqui. Mas pra isso precisamos mostrar que realmente temos totais condições de recebermos um evento desse porte. Vejo sempre vários atletas reclamando de não receberem suas bolsas e isso é ruim, não para quem faz esses eventos e sim para os lutadores.

RE - Hoje temos diversos lutadores "quarentões" no MMA, alguns ainda fazendo boas apresentações e outros nem tanto, você está com 30 anos, como se vê daqui 10 ou 15 anos?
AA - Me vejo lutando ainda. Na verdade eu não consigo me ver parando. Mas na minha cabeça eu quero parar com 42, tipo vovô garoto. (risos)

RE - E fora dos ringues...  O que diverte Amilcar Alves quando não está treinando? O que gosta de fazer em seus momentos de folga?
AA - Curtir minha família e dar aula. Uma coisa que eu sempre gostei é de dar aula. Sinto muita saudade do meu filho e quando eu chego em casa depois de ter dado aula ele já esta dormindo. Fico muito triste com isso. Mas é um sacrifício que mais tarde valerá à pena. Família é tudo pra mim.

Para terminar... Aquela rapidinha básica.
 
Família: Minha sustentação
Música: Todas. Vejo como um estímulo na hora da luta. Uma musica bem escolhida pode fazer diferença.
E qual marcará sua estréia no UFC? Can’t Be Touched – Roy Jones Jr.
MMA: Minha vida, meu alimento
UFC: Um sonho se realizando
George St. Pierre:  O melhor exemplo de atleta  do MMA .
Gostaria de lutar com... Qualquer um que coloquem na minha frente!
Sonho a ser realizado:  Ser campeão do UFC e ver todos meus amigos lutando e conseguindo viver do MMA.
Deus: A porta para qualquer um que deseja ser feliz!
Lema de Vida: Se as portas da esperança não se abrem para você... pule a janela (risos)

O Round Extra agradece pela entrevista e deseja boa sorte em sua estréia no UFC.

Entrevista concedida em 24/08/10

2 comentários:

  1. um cara que merece chegar no topo pela humildade. pens ter começado mal no UFC mas só não desistir que ainda trará muitas vitorias ao Brasil.
    Sorte!!!!!!!

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  2. Não vi a luta do Amilcar, mas sei que ele manda bem. Não é atoa que mantem um cartel de lutas incriveis. não estava no seu dia, mas vai superar.
    Força guerreiro.

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